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Falta de atualização cadastral desafia empresas na era da LGPD e abre brecha para riscos jurídicos

Falta de atualização cadastral desafia empresas na era da LGPD e abre brecha para riscos jurídicos

Rotinas negligenciadas têm gerado perdas com salário-família, dificuldades em rescisões e insegurança jurídica em casos de óbito do colaborador.

Você pode estar correndo um risco jurídico enorme sem perceber — e tudo por causa de um simples cadastro desatualizado. Em muitas empresas, esse problema silencioso já virou origem de ações trabalhistas, autuações e até dificuldades para pagar verbas a quem realmente tem direito.

Na prática, a negligência com informações básicas de funcionários — endereço, estado civil, dependentes, telefone, e-mail — vem gerando perdas financeiras e insegurança jurídica. Com a vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709/2018), o cenário ficou ainda mais crítico: a legislação exige que as organizações mantenham dados exatos, atualizados e coerentes com sua finalidade.

Por que a falta de atualização cadastral virou um problema jurídico

O descuido com dados não é apenas um erro administrativo. Ele tem impacto direto em rotinas legais, trabalhistas e previdenciárias. Especialistas em Direito do Trabalho alertam que a responsabilidade é compartilhada entre empresa e colaborador — e quando isso falha, o passivo aparece.

A LGPD reforça o princípio da exatidão, que determina que informações pessoais devem ser “exatas, claras, relevantes e atualizadas”. Se uma empresa mantém cadastros incorretos, pode ser questionada tanto pela Justiça do Trabalho quanto pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

Cláusulas contratuais ajudam, mas não resolvem sozinhas

Segundo advogados que atuam na área trabalhista, uma das medidas mais eficazes é inserir no contrato de trabalho uma cláusula que obrigue o colaborador a informar qualquer mudança, como:

O problema é que, mesmo com a previsão contratual, muitos funcionários deixam de comunicar mudanças importantes. É nesse ponto que a responsabilidade ativa da empresa se torna essencial.

Rotina interna é decisiva para evitar problemas

Especialistas defendem que as organizações criem um calendário fixo para revisar e validar os dados de seus colaboradores. Essa revisão pode ocorrer a cada três meses, seis meses ou anualmente, desde que seja constante e documentada. O processo costuma ser conduzido pelo Departamento Pessoal.

Na prática, isso significa convocar os funcionários para confirmar dados básicos e atualizar comprovantes. A medida reduz falhas, evita distorções e demonstra boa-fé e diligência em eventuais disputas judiciais.

Casos reais mostram o peso do problema

A falta de atualização cadastral pode gerar consequências sérias. Dois exemplos recorrentes ilustram o tamanho do impacto:

1. Salário-família pago de forma incorreta

O salário-família, previsto na legislação previdenciária, depende da apresentação de documentos que comprovem a existência de dependentes. Quando o colaborador não comunica o nascimento de um filho, a empresa deixa de pagar o valor no momento certo. Depois, na Justiça, ele pode pedir os retroativos dos últimos cinco anos, ampliando o passivo da organização.

2. Óbito do colaborador sem dados de dependentes

Outro cenário crítico envolve o falecimento do funcionário. Sem informações atualizadas, a empresa muitas vezes não sabe quem são os dependentes legítimos. Isso dificulta:

Nesses casos, a falta de dados coloca a empresa em uma situação delicada, gerando insegurança jurídica e atrasos na finalização do vínculo trabalhista.

LGPD reforça o dever de cuidado

Além das obrigações previstas na legislação trabalhista e previdenciária, a LGPD exige que empresas adotem medidas para garantir a qualidade e a atualização dos dados pessoais que tratam. A ausência de controles pode ser interpretada como falha de governança e resultar em sanções da ANPD, como advertências, multas e exigência de correção imediata.

Como as empresas podem se proteger

Práticas simples podem evitar grandes problemas. Entre elas:

Essas medidas fortalecem a segurança jurídica e reduzem o risco de passivos inesperados.

Manter dados atualizados não é burocracia — é prevenção. Em meio a um ambiente regulatório mais rígido, impulsionado pela LGPD e por decisões trabalhistas recentes, empresas que negligenciam essa etapa ficam mais expostas. Um endereço errado, um dependente não declarado ou uma mudança de estado civil ignorada podem custar caro.

Ao estruturar rotinas, registrar processos e orientar colaboradores, as organizações ganham previsibilidade, segurança e proteção jurídica.

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