Desigualdade de gênero e idade revela barreiras na qualificação, enquanto empresas buscam alternativas para acompanhar a demanda por talentos em IA.

Desigualdade de gênero e idade revela barreiras na qualificação, enquanto empresas buscam alternativas para acompanhar a demanda por talentos em IA

A crescente adoção da inteligência artificial (IA) nas empresas e a consequente falta de trabalhadores capacitados para operar essas tecnologias estão expondo um descompasso preocupante no mercado de trabalho. De acordo com um novo estudo da Randstad, multinacional de consultoria em RH, as lacunas em habilidades de IA estão não apenas ampliando a escassez de mão de obra, mas também evidenciando barreiras significativas, especialmente para mulheres e trabalhadores mais velhos.

A importância da qualificação em IA para enfrentar a escassez de mão de obra

De acordo com a pesquisa, realizada em mais de uma dúzia de países e com cerca de 12 mil trabalhadores entrevistados, 75% das empresas já adotam IA de alguma forma. No entanto, menos da metade dos trabalhadores, apenas 35%, afirma ter recebido algum tipo de treinamento em IA no último ano. Esse baixo índice de capacitação ameaça diretamente a capacidade das empresas de avançar em inovação, uma vez que a IA exige habilidades específicas e adaptativas que a maioria dos trabalhadores ainda não possui.

Sander van ‘t Noordende, CEO da Randstad, reforçou a urgência do problema:

“A escassez de talentos é um desafio global significativo, e o acesso equitativo a qualificações, recursos e oportunidades precisa ser uma prioridade. Sem ações rápidas, teremos um número cada vez menor de trabalhadores prontos para o futuro do trabalho.”

Desigualdades de gênero e geração nas habilidades de IA

As disparidades na qualificação em IA não afetam apenas a disponibilidade de talentos, mas também ressaltam desigualdades de gênero e idade entre os trabalhadores. De acordo com o estudo, enquanto 71% dos profissionais capacitados em IA são homens, apenas 29% são mulheres, o que representa uma lacuna de 42 pontos percentuais.

No aspecto geracional, os chamados Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) representam o grupo menos capacitado para a IA: somente um em cada cinco deles teve acesso a algum tipo de qualificação. Em contrapartida, quase metade dos trabalhadores da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) relata ter recebido algum treinamento na área, o que sugere que as empresas estão priorizando os mais jovens para acompanhar o avanço da tecnologia.

Projeções de automação e o futuro dos empregos

As tendências de automação causadas pela IA já fazem parte das previsões mais urgentes sobre o futuro do trabalho. Segundo uma análise da McKinsey, até 2030, a IA poderá automatizar cerca de 29,5% das horas trabalhadas na economia dos Estados Unidos, um crescimento considerável em relação aos 21,5% projetados inicialmente. Em uma previsão ainda mais ampla, o Goldman Sachs calcula que até 300 milhões de empregos de tempo integral poderão ser automatizados na Europa e nos EUA.

Diante dessas previsões, a carência de qualificação em IA, principalmente entre grupos marginalizados, aponta para uma futura crise de exclusão digital e restrição de oportunidades. Sem treinamento adequado e inclusivo, a tecnologia que deveria ser uma aliada na evolução do mercado de trabalho pode acabar ampliando as desigualdades.

Estratégias recomendadas para empresas e gestores de RH

Para evitar o agravamento das lacunas de qualificação, a Randstad destaca uma série de recomendações às empresas. O relatório enfatiza a necessidade de “abordagens de qualificação rápidas e inclusivas” para que todos os grupos demográficos possam acompanhar a rápida evolução da IA. Segundo a empresa, isso inclui o desenvolvimento de programas de treinamento específicos para mulheres e grupos etários mais velhos, bem como parcerias com instituições de ensino e organizações sociais para disseminar as habilidades de IA de forma equitativa.

Além disso, a Randstad sugere que as empresas avaliem tanto o potencial quanto as limitações da IA, buscando garantir que os trabalhadores estejam preparados para usar a tecnologia de forma crítica e ética. Isso pode envolver, por exemplo, a criação de estratégias para mitigar vieses na IA e para personalizar os treinamentos conforme as necessidades de diferentes grupos de trabalhadores.

O papel das empresas em promover uma transição tecnológica inclusiva

À medida que a inteligência artificial se torna uma parte central da operação das empresas, a responsabilidade de preparar todos os trabalhadores para essa transformação é cada vez mais evidente. Para Mariana, líder de RH que vê de perto as dificuldades e expectativas dos colaboradores, essas iniciativas são essenciais. Sem elas, a exclusão de talentos e o agravamento da escassez de mão de obra serão inevitáveis.

No cenário atual, as organizações não podem mais depender apenas dos especialistas em IA para crescer. É preciso investir na capacitação inclusiva e ampla de todos os funcionários para garantir que a tecnologia seja um recurso a serviço de todos.