Pesquisa do Boston Consulting Group (BCG), destacada pela Veja, mostra que 76% dos profissionais brasileiros já adotaram a tecnologia, mas o investimento em treinamento é baixíssimo, criando um risco para áreas estratégicas como a sua.

Existe uma revolução silenciosa acontecendo na sua equipe de RH, e a ferramenta principal já está nas mãos de cada um dos seus recrutadores. Se você ainda acredita que o uso de Inteligência Artificial é um plano para o futuro, um estudo recente mostra que, no Brasil, ele já é uma realidade caótica e sem supervisão.

A nova realidade do RH: adoção em massa, preparo de menos

A verdade é que a sua equipe já usa IA. Essa não é uma suposição, é uma realidade estatística. Uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) aponta que 76% dos profissionais no Brasil fazem uso regular de Inteligência Artificial no trabalho.

No dia a dia do recrutamento, isso se traduz em descrições de vagas que são geradas em segundos, e-mails para candidatos escritos com um simples comando e até mesmo a triagem inicial de competências sendo otimizada por essas ferramentas. A velocidade encanta, mas esconde uma falta de preparo perigosa.

O otimismo que pode mascarar um grande risco

Curiosamente, o profissional brasileiro é um dos menos preocupados do mundo com essa tecnologia. Apenas 27% acreditam que seus empregos desaparecerão na próxima década por causa da IA , um contraste gritante com a média global de 41%.

Esse otimismo, à primeira vista positivo, funciona como um catalisador para o perigo. Quando não há receio sobre uma tecnologia tão poderosa, a tendência é usá-la de forma indiscriminada e sem atenção aos detalhes.

No recrutamento, onde lidamos com dados sensíveis de candidatos e decisões críticas de contratação, o excesso de confiança em uma ferramenta que não se domina é um campo minado para a qualidade e a justiça do processo seletivo.

Por que a IA se espalhou tão rápido

Primeiro, a democratização da Inteligência Artificial Generativa (GenAI), impulsionada por ferramentas como o ChatGPT no final de 2022 e início de 2023. De repente, qualquer pessoa, sem conhecimento técnico algum, tinha acesso a um assistente poderoso.

Segundo, gigantes como Google e Microsoft incorporaram a tecnologia em suas ferramentas de trabalho tradicionais, como editores de texto, planilhas e e-mails. Nas palavras de Alexandre Montoro, diretor do BCG responsável pelo estudo, isso acabou “empurrando as empresas para essa adoção”.

 

O “gap” perigoso: A lacuna entre o uso diário e o treinamento formal

O título do estudo do BCG já entrega o problema central:

Al at Work: Momentum Builds, but Gaps Remain (IA no trabalho: o impulso aumenta, mas ainda há lacunas). A grande lacuna está justamente entre o uso massivo e o “pouco investimento em treinamento”.

Enquanto sua equipe otimiza tarefas diárias com a IA, ela o faz sem diretrizes, sem conhecimento sobre as limitações da ferramenta e sem uma política de segurança clara.

Para um time de RH, essa lacuna de conhecimento pode significar:

  • Descrições de vagas que perpetuam vieses inconscientes.
  • Análises de currículos que descartam bons candidatos por uma interpretação errada da IA.
  • Perda de tempo tentando extrair resultados de qualidade de uma ferramenta que não sabem operar corretamente.

O primeiro passo não é proibir, é preparar

A Inteligência Artificial não vai embora. Proibir seu uso, além de ser uma tarefa quase impossível, colocaria sua empresa em desvantagem competitiva.

O cenário revelado pela pesquisa não é um convite ao pânico, mas sim um alerta para a ação. Diante do fato de que a IA já é uma ferramenta de trabalho consolidada, o papel estratégico do RH é liderar o caminho para um uso consciente e produtivo.

O primeiro passo não é o bloqueio, mas a preparação. É hora de conversar abertamente sobre o uso dessas ferramentas, entender como sua equipe pode extrair o melhor delas e, principalmente, começar a planejar a capacitação que irá transformar o risco em uma verdadeira vantagem estratégica.