Inclusão não é só no RH — especialistas alertam que mudança real só vem quando toda a cadeia produtiva é repensada.
Sua empresa exibe com orgulho ações de diversidade, mas ignora quem fornece os produtos e serviços que sustentam o seu negócio? Se a inclusão não vai além do RH, o impacto é limitado — e o risco é perder relevância, reputação e resultados.
Enquanto o discurso em torno da diversidade corporativa ganha espaço em eventos, redes sociais e relatórios de ESG, o alcance real dessas práticas ainda é raso. A professora Veronica Cook-Euell, da Universidade Estadual de Kent, nos Estados Unidos, defende que é preciso expandir urgentemente o entendimento sobre o que é, de fato, uma empresa inclusiva.
“Diversidade de verdade não para no crachá”
Segundo Veronica, as empresas só terão um impacto profundo e duradouro quando ampliarem seu olhar para além dos próprios colaboradores. Isso significa repensar toda a cadeia produtiva, desde a contratação de fornecedores até a participação em ecossistemas comunitários e setoriais.
“As mudanças mais profundas só virão quando as companhias adotarem esses conceitos também na hora de escolher fornecedores”, afirma a professora em entrevista ao jornal Valor Econômico (27/06/2019).
A provocação é clara: não basta ter equipes internas diversas. É preciso se perguntar: de quem estamos comprando? Quem são nossos parceiros de negócio? Estamos gerando oportunidades para grupos sub-representados?
O elo invisível: a cadeia produtiva excludente
Mesmo organizações bem-intencionadas caem na armadilha da “diversidade simbólica”, em que contratações pontuais mascaram um sistema estruturalmente excludente. Fornecedores tradicionais — geralmente compostos por empresas lideradas por homens brancos — seguem sendo privilegiados em detrimento de negócios comandados por mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência.
Essa exclusão invisível compromete todo o esforço de inclusão da empresa.
Como ampliar a inclusão na cadeia produtiva?
Cadastrar e priorizar fornecedores diversos, com certificações ou histórico de impacto social
Firmar parcerias com startups fundadas por minorias
Estabelecer metas de inclusão para prestadores de serviço terceirizados
Criar editais com critérios que favoreçam a equidade nas contratações
E mais: envolver as áreas de compras, jurídico, compliance e finanças nesse processo é essencial para que a diversidade seja, de fato, parte do modelo de negócios.
Impacto social — e retorno econômico
Embora muitas empresas ainda enxerguem a diversidade como uma obrigação moral, há uma conexão direta com performance financeira e reputação. Empresas com cadeias de valor mais inclusivas:
Acessam novos mercados e talentos
Estimulam inovação em seus ecossistemas
Criam vínculos mais profundos com comunidades locais
Se antecipam a regulações ESG e pressões de investidores
A verdadeira transformação começa pela coragem
Expandir a diversidade para além das contratações exige uma mudança de mentalidade profunda nas lideranças. Como destaca Veronica Cook-Euell, trata-se de assumir a responsabilidade pelo impacto sistêmico da empresa e rever decisões diárias com uma nova lente.
Para quem lidera áreas de RH, ESG, compras ou governança, o desafio é também uma oportunidade: ser protagonista de uma mudança que pode redesenhar a forma como as organizações se relacionam com o mundo ao redor.
Porque, no fim, a diversidade que vale é a que transforma tudo ao redor — e não apenas quem aparece no crachá.
