Levantamento nacional com jovens de 14 a 29 anos indica valorização do ensino presencial, busca por estabilidade no trabalho e preferência pelo modelo híbrido nas empresas.

A Geração Z, frequentemente retratada como avessa a rotinas e vínculos formais, começa a revelar um retrato bem diferente do senso comum. Dados recentes mostram jovens mais pragmáticos, atentos à segurança profissional e à qualidade do aprendizado, mesmo em um cenário cada vez mais digital.

Pesquisa realizada pelas consultorias Demà e Nexus, divulgada nesta segunda-feira (8), indica que 81% dos jovens dizem aprender mais em aulas presenciais e 69% afirmam preferir um emprego formal, com carteira assinada.

Pesquisa ouviu mais de 2 mil jovens em todo o país

O levantamento entrevistou 2.016 pessoas entre 14 e 29 anos, em todas as 27 Unidades da Federação, entre os dias 14 e 20 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%, o que confere robustez estatística aos resultados.

Os dados ajudam a desmontar a ideia de que a chamada “geração digital” rejeita modelos tradicionais de ensino e trabalho.

Sala de aula ainda é vista como espaço de aprendizado mais eficaz

Mesmo tendo crescido conectada à internet e às plataformas digitais, a Geração Z demonstra forte valorização da experiência presencial na educação.

Segundo a pesquisa:

  • 81% afirmam aprender mais com aulas presenciais

  • Apenas uma parcela minoritária diz preferir formatos totalmente online

O resultado sugere que, para esses jovens, a troca humana, a interação direta com professores e colegas e a rotina estruturada continuam sendo fatores centrais para o aprendizado.

Emprego formal segue como prioridade entre os jovens

No mercado de trabalho, o levantamento também contraria estereótipos. Apesar da popularização do discurso sobre empreendedorismo e informalidade, a maioria dos jovens demonstra preferência por vínculos tradicionais.

  • 69% desejam um emprego formal, com carteira assinada

  • 29% afirmam preferir trabalho informal e sem rotina

  • 2% não souberam ou não responderam

Os números indicam que estabilidade, previsibilidade de renda e direitos trabalhistas seguem sendo fatores decisivos para essa geração.

Modelo híbrido é o preferido no trabalho

Quando o assunto é formato de trabalho, a Geração Z não adota posições extremas. O estudo mostra que o modelo híbrido, que combina dias presenciais e remotos, é o favorito entre os entrevistados.

  • 48% preferem o modelo híbrido

  • 39% optam pelo trabalho 100% presencial

  • 11% escolhem o formato totalmente remoto

  • 2% não souberam ou não responderam

O dado reforça que o home office integral, apesar da visibilidade nas redes sociais, não é a principal escolha da maioria dos jovens.

Inteligência artificial é vista como aliada, mas gera receios

A pesquisa também investigou a relação da Geração Z com a tecnologia, especialmente a inteligência artificial.

  • 84% consideram importante ter conhecimento em IA para conseguir emprego

  • 69% veem a tecnologia como aliada para otimizar os estudos

  • 24% acreditam que a IA pode ser prejudicial

  • 7% não souberam ou não opinaram

O resultado revela uma geração que reconhece o potencial da tecnologia, mas mantém cautela diante dos riscos, especialmente no mercado de trabalho.

Leitura dos dados aponta pragmatismo da Geração Z

Para Juan Carlos Moreno, diretor da Demà, os números mostram uma geração menos ideológica e mais prática.

“Esses dados são fascinantes porque revelam a dualidade que define a geração digital de hoje. São jovens que abraçam a inteligência artificial como ferramenta de produtividade, mas não abrem mão da segurança de um emprego formal e da riqueza da interação humana”, afirma.

O que os dados indicam para empresas e RH

Para profissionais de recursos humanos, os resultados funcionam como um alerta. Políticas baseadas apenas em clichês geracionais podem estar desalinhadas da realidade.

A pesquisa sugere que:

  • Ensino presencial continua sendo valorizado na formação

  • Emprego formal ainda é sinônimo de segurança

  • Flexibilidade importa, mas dentro de um modelo híbrido

  • Tecnologia é vista como diferencial, não como substituta das relações humanas

Ignorar esses sinais pode significar dificuldade na atração e retenção de talentos jovens.