Estresse atinge 49% dos profissionais no mundo, enquanto só 21% recebem apoio emocional. Veja o que realmente funciona para evitar o burnout.
O estresse virou rotina, o burnout, epidemia — e as empresas seguem achando que um plano de saúde resolve tudo.
Mas enquanto gestores ignoram o problema, milhares de profissionais desabam em silêncio.
Quase metade dos trabalhadores no mundo vive um nível de estresse considerado de moderado a elevado todos os dias. Esse é o alerta do Relatório de Tendências Globais 2025, da ManpowerGroup, que revela: apenas 21% desses profissionais recebem algum tipo de apoio emocional no trabalho.
No Brasil, o cenário é ainda mais alarmante. Segundo dados do Ministério da Previdência Social, mais de 470 mil trabalhadores foram afastados em 2024 por causas ligadas à ansiedade e depressão — o maior número registrado em uma década.
O que (ainda) está errado na forma como as empresas cuidam da saúde mental
É comum ver empresas que dizem se preocupar com o bem-estar do time, mas que na prática oferecem ações superficiais. Para Wilma Dal Col, diretora de RH do ManpowerGroup, o modelo precisa mudar urgentemente:
“O contratante deve promover hábitos saudáveis, capacitar lideranças e investir em programas de apoio à saúde mental e física.”
Convênios médicos, yoga uma vez por mês e murais motivacionais não resolvem. As ações precisam ser estratégicas, constantes e adaptadas à realidade dos times.
IA e burnout: o paradoxo tecnológico
O avanço da tecnologia, especialmente com a popularização da Inteligência Artificial, deveria aliviar tarefas. Mas a realidade é outra: 77% dos trabalhadores dizem que a IA aumentou a carga de trabalho e reduziu a produtividade.
Entre os que usam IA diariamente, 47% relatam dificuldade em atingir os níveis esperados.
O dado mais chocante vem da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT): cerca de 30% dos profissionais brasileiros já apresentam sintomas claros de burnout.
Estresse como regra: o que gera esse colapso emocional?
Pressões exageradas por produtividade, sem suporte emocional
Lideranças despreparadas para acolher e escutar
Falta de políticas claras de bem-estar e programas de apoio real
Ambientes digitais tóxicos, com excesso de redes sociais e estímulos constantes
Desigualdade na flexibilização do trabalho, que gera ressentimento e frustração
Esses fatores, somados, criam uma sensação de cansaço crônico e desamparo que pode ser devastadora para a produtividade e para o clima organizacional.
Geração Z e Millennials: expectativas diferentes, estresse em comum
A forma como cada geração encara o trabalho também influencia no nível de estresse.
A Geração Z valoriza empresas que cuidam do bem-estar emocional e sofre com problemas de comunicação e excesso de cobrança.
Já os Millennials, geralmente em cargos de liderança, enfrentam a sobreposição entre pressões profissionais e responsabilidades familiares.
De acordo com o ManpowerGroup, 53% dos Millennials relatam estresse constante, número acima da média global.
Ambiente físico importa (muito mais do que se imagina)
Escritórios frios e impessoais afastam as pessoas. Em contrapartida, espaços acolhedores, com estímulo à interação e conforto, podem ser aliados poderosos.
Segundo pesquisa da WeWork, a busca por escritórios compartilhados cresceu 20% desde a pandemia, mostrando que o ambiente influencia diretamente no bem-estar dos colaboradores.
Práticas simples que geram impacto real
Não é necessário um orçamento milionário para cuidar da saúde emocional do time. Algumas ações simples já fazem diferença significativa:
Pausas programadas e respeitadas (inclusive durante reuniões)
Treinamentos de inteligência emocional e escuta ativa para líderes
Programas de escuta interna com confidencialidade garantida
Acesso a psicólogos e terapeutas, com sigilo e flexibilidade de horários
Educação digital sobre uso consciente de redes sociais e limites no “online”
Para Wilma Dal Col, o mais importante é que o colaborador se sinta acolhido, ouvido e seguro para pedir ajuda:
“O colaborador precisa se sentir à vontade para investir em sua formação e recuperação. Isso aumenta sua confiança e sua entrega.”
Bem-estar é estratégia de produtividade — e não um luxo
Ignorar os sinais de colapso emocional pode custar caro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que investir em saúde mental pode quadruplicar a produtividade.
Empresas que já adotaram uma abordagem mais humanizada observam:
Redução no turnover e nos afastamentos
Melhoria do clima organizacional e da colaboração entre equipes
Fortalecimento da imagem da empresa como marca empregadora
No fim, o cuidado com a saúde mental não é custo — é investimento. E, num mercado cada vez mais competitivo, empresas que cuidam das pessoas saem na frente.
Não basta mais ter um RH que preencha planilhas e contrate benefícios genéricos. É preciso um RH que veja, escute e transforme.
