A mudança chega para evitar confusões e trazer mais clareza ao diagnóstico e à prevenção no ambiente de trabalho.
Prepare-se para uma revolução na saúde ocupacional. A partir de 1º de janeiro de 2025, a CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) entra em vigor no Brasil, trazendo mudanças significativas para o diagnóstico e a gestão de doenças no país. Entre os destaques, está a reclassificação do burnout, que promete transformar a forma como empregadores e profissionais de saúde encaram essa condição no ambiente de trabalho.
Mas o que, de fato, muda? Vamos entender como a CID-11 redefine o burnout e o que isso significa para a saúde mental e as empresas.
O que é a CID-11 e por que sua entrada em vigor é importante?
Elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a CID é uma ferramenta global utilizada para categorizar doenças e condições de saúde. Com mais de 55 mil códigos, ela serve como uma linguagem universal para profissionais de saúde e pesquisadores.
A CID-11 é fruto de uma década de colaboração internacional, publicada em 2018 e implementada gradualmente desde 2022. Seu objetivo principal é atualizar os critérios diagnósticos de acordo com os avanços médicos, tecnológicos e sociais. Agora, em 2025, o Brasil se junta a outros países na adoção oficial dessa nova revisão.
Como o burnout era tratado na CID-10?
Na versão anterior, o burnout era descrito de forma genérica, listado como um “problema relacionado a dificuldades de gerenciamento da vida”. Essa definição vaga dificultava diagnósticos precisos, levando a confusões com condições como a depressão.
Essa ambiguidade impactava não só os trabalhadores que sofriam com a condição, mas também as empresas, que tinham pouca clareza sobre como prevenir ou lidar com casos de esgotamento emocional no trabalho.
Burnout na CID-11: uma visão mais clara
Com a nova classificação, o burnout é agora definido como um fenômeno ocupacional, ou seja, algo que ocorre exclusivamente no contexto do trabalho. De acordo com a OMS, ele passa a ser identificado por três características principais:
- Exaustão extrema no ambiente de trabalho.
- Distanciamento mental em relação às atividades ou colegas.
- Redução significativa da eficácia profissional.
Essa especificidade ajuda a diferenciar o burnout de outras condições, como a depressão, e facilita o desenvolvimento de estratégias preventivas.
Impactos diretos para empresas e empregadores
Com o burnout sendo reconhecido como uma condição diretamente ligada ao trabalho, as organizações enfrentam novas responsabilidades. Marcos Mendanha, médico do trabalho e diretor da Faculdade CENBRAP, alerta que empresas devem investir na criação de ambientes mais saudáveis para evitar possíveis responsabilizações legais.
Isso inclui:
- Promover políticas que equilibrem a carga de trabalho.
- Oferecer suporte psicológico aos colaboradores.
- Monitorar sinais de esgotamento emocional nas equipes.
Empresas que ignorarem essas diretrizes podem enfrentar consequências não só na Justiça, mas também na reputação e produtividade.
Como gestores de RH podem se preparar?
Para gestores e profissionais de RH, o desafio é implementar práticas que previnam o burnout antes que ele se torne um problema legal ou de saúde pública. Algumas ações recomendadas incluem:
- Mapear fatores de risco no ambiente de trabalho.
- Realizar treinamentos sobre saúde mental.
- Garantir canais de comunicação abertos para que colaboradores possam expressar dificuldades.
Essas práticas não apenas ajudam a reduzir o burnout, mas também aumentam a produtividade e retenção de talentos.
A conexão entre saúde mental e produtividade
Estudos indicam que a saúde mental dos trabalhadores está diretamente ligada à produtividade. Por exemplo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) destaca que ambientes de trabalho seguros e saudáveis podem impactar positivamente a produtividade. Além disso, um estudo da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho revela que, para cada dólar investido em segurança e saúde no trabalho, há um retorno médio de 2,2 dólares.
Investir na saúde mental dos colaboradores não é apenas uma obrigação, mas também um diferencial competitivo. Ambientes de trabalho que promovem o bem-estar tendem a apresentar menor absenteísmo, maior engajamento e melhor desempenho por parte dos funcionários.
A entrada da CID-11 no Brasil é uma oportunidade para mudar o cenário da saúde ocupacional no país. Com uma visão mais clara sobre o burnout, espera-se que as empresas assumam seu papel na construção de ambientes saudáveis e sustentáveis. Afinal, trabalhadores saudáveis constroem empresas mais fortes.