Mesmo com escolaridade e cargos equivalentes, mulheres chegam a ganhar 31,5% a menos que homens. Veja os dados oficiais e o que sua empresa precisa fazer para evitar penalidades.

O relatório é oficial, os números são alarmantes e o impacto, bilionário. Mesmo com formação superior ou em cargos de liderança, mulheres continuam ganhando menos que os homens no Brasil — e essa diferença está custando caro para o país e para as empresas.

No dia 7 de abril de 2025, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou o 3º Relatório de Transparência Salarial e Igualdade, baseado nos dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) de 2024. O levantamento analisou mais de 19 milhões de vínculos empregatícios em 53.014 empresas privadas com mais de 100 funcionários.

O resultado? Uma diferença média de 20,9% entre os salários de homens e mulheres, mesmo em funções equivalentes. Isso representa uma perda de R$ 95 bilhões para a economia brasileira — dinheiro que deixou de circular, investir e crescer simplesmente por conta da desigualdade de gênero.

O recorte mais doloroso: mulheres negras recebem 110% a menos que homens não negros

Os dados ganham contornos ainda mais graves quando se observa a desigualdade sob a ótica racial. Enquanto homens não negros recebem, em média, R$ 6.033,15, as mulheres negras recebem R$ 2.864,39diferença de aproximadamente 110%, mesmo em funções semelhantes.

  • Homens negros: R$ 3.647,97

  • Mulheres negras: R$ 2.864,39

  • Homens não negros: R$ 6.033,15

Essa disparidade mostra que não se trata apenas de gênero ou raça isoladamente, mas da intersecção entre ambos. Mulheres negras são as mais impactadas negativamente por esse cenário estrutural.

canal do RH

Mesmo com diploma ou liderança, mulheres ainda ganham menos

Não é falta de qualificação. Os dados mostram que a desigualdade persiste mesmo entre profissionais com a mesma escolaridade:

  • Direção e gerência: mulheres recebem 73,2% do salário dos homens

  • Nível superior: mulheres recebem 68,5% da remuneração masculina

  • Serviços administrativos: mulheres ganham 79,8% dos salários dos homens

Ou seja, as mulheres chegam a ganhar até 31,5% a menos, mesmo quando ocupam as mesmas funções ou têm os mesmos títulos acadêmicos.

Mais mulheres no mercado, menos dinheiro na folha

Há avanços na presença feminina, mas não no bolso. De 2015 a 2024, o número de mulheres no mercado formal saltou de 38,8 milhões para 44,8 milhões, representando hoje 40,6% dos trabalhadores formais no país.

No entanto, isso não refletiu em equidade nos ganhos: a massa salarial feminina é de apenas 34,8% do total.

Outro dado que chama atenção: a quantidade de estabelecimentos com até 10% de mulheres negras caiu de 21.680 (2023) para 20.452 (2024). Mas, por outro lado, a presença dessas profissionais cresceu, indo de 3,2 para 3,8 milhões.

O que as empresas estão (ou não estão) fazendo?

O relatório revelou que, apesar da cobrança crescente por equidade, ainda há muito a ser feito nas políticas corporativas:

  • 56,1% das empresas têm planos de cargos e salários

  • 42,5% oferecem flexibilização de jornada

  • Apenas 22% têm auxílio-creche

  • Apenas 21,2% oferecem licença maternidade/paternidade estendida

  • 30,7% apoiam ações de parentalidade para mulheres

  • 76,8% consideram tempo de experiência na remuneração

  • 64,7% usam metas de produção como critério de pagamento

O recado é claro: há mais cobrança do que ação efetiva.

O que sua empresa é obrigada a fazer pela Lei nº 14.611/2023

Em vigor desde 2023, a Lei nº 14.611 determina que todas as empresas com mais de 100 funcionários devem cumprir exigências rigorosas em relação à equidade salarial. Entre elas:

  • Política de transparência salarial

  • Canais de denúncia de discriminação

  • Programas de diversidade

  • Ações de capacitação e promoção feminina

O não cumprimento pode resultar em penalidades administrativas. Ou seja: não é mais uma questão de escolha, é de conformidade legal.

Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral: o que vem por aí

Para apoiar e fiscalizar a mudança, o governo federal lançou o Plano Nacional de Igualdade Salarial e Laboral (2024–2027). A iniciativa tem vigência até 2027 e está sendo monitorada por um Comitê Gestor Interministerial.

O plano busca criar ações coordenadas e mensuráveis para combater a desigualdade de gênero no trabalho, com foco tanto em políticas públicas quanto em compromissos empresariais.

Desigualdade salarial também é prejuízo econômico

Mais que injustiça, é burrice econômica.

  • Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil poderia aumentar seu PIB em R$ 382 bilhões com igualdade de gênero no trabalho.

  • Já o Banco Mundial aponta que o PIB global poderia crescer 20% se homens e mulheres tivessem as mesmas oportunidades profissionais.

O RH é protagonista dessa mudança

A desigualdade salarial entre homens e mulheres não é um problema apenas social — é jurídico, econômico e estratégico. Em tempos de ESG, reputação e responsabilidade social, as empresas que não se adaptarem ficarão para trás.

Para profissionais de RH, DP e lideranças empresariais, é hora de transformar os relatórios em planos de ação. Transparência, equidade e justiça são mais do que ideais — são obrigações.